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segunda-feira, 10 de setembro de 2012

UMA IGREJA EM CADA ESQUINA?


Um texto interessante do Azenha sobre o papel da direita religiosa nos Estados Unidos e o crescimento da participação das igrejas na política no Brasil, cuja expressão mais recente é a candidatura do Celso Russomano, que tem apoio da igreja universal do “bispo” Macedo, de sua dissidente, a igreja mundial do poder de Deus, e de setores carismáticos da igreja católica. Estaremos caminhando para minar as bases do Estado laico?      

Como a direita religiosa organizou um bloco que mudou a política norte-americana

Luiz Carlos Azenha, no Viomundo

Morei pela primeira vez nos Estados Unidos durante o único mandato de Jimmy Carter. O presidente originário da Geórgia, no sul, era um batista abertamente religioso. Dizia-se, então, que ser sulista ou ter um sulista na chapa era condição indispensável para disputar a Casa Branca. Uma forma de dar satisfação ao chamado Bible Belt, o Cinturão da Bíblia.
Carter foi derrotado em 1980 pela crise econômica, pelo debacle no resgate dos reféns norte-americanos presos na embaixada dos Estados Unidos em Teerã e por não ser suficientemente anticomunista (por causa da resposta dele à invasão soviética do Afeganistão). É do período de Carter o surgimento, nos Estados Unidos, da chamada Moral Majority, a Maioria Moral, uma organização militante em defesa de causas cristãs.
Ronald Reagan inspirou a "maioria moral"

O republicano Ronald Reagan chegou ao poder com apoio da Maioria Moral. O grupo, já extinto, ajudou a consolidar uma coalizão religiosa ecumênica que assumiu protagonismo de longo prazo na política dos Estados Unidos. Ela se reuniu em torno de temas como o combate ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e a promoção do ensino religioso e do criacionismo. O ápice do poder da coalizão foi nos dois governos de George W. Bush: a direita religiosa forneceu a militância, os neocons reunidos em publicações conservadoras e think-tanks de Washington ofereceram as ideias e o dinheiro vinha de grupos lobistas ou milionários como os irmãos Koch.

É importante lembrar que, nos anos 50, evangélicos trabalharam ativamente contra a eleição do primeiro presidente católico dos Estados Unidos, John Kennedy. De certa forma, os fiéis mais conservadores se aglutinariam mais tarde numa resposta à contracultura dos anos 60 e à “esquerdização” do Partido Democrata, que adotou a plataforma dos direitos civis.

Foi a luta pelos direitos civis, aliás, que deu ao Partido Democrata uma aguerrida militância; o Partido Republicano, que se ressentia da falta de ligação com organizações de base, conseguiu a sua na direita religiosa. Cabos eleitorais, voluntários para bater de porta e porta e fazer propaganda, para ligar e convencer amigos, parentes e vizinhos a votar ou apoiar uma causa.

No Brasil, como notou Vladimir Safatle recentemente, a Igreja Católica, que esteve na base da formação do PT — com suas Comunidades Eclesiais –, nos últimos anos deu uma grande guinada conservadora. Em São Paulo já se nota uma aproximação entre os carismáticos e os evangélicos. José Serra ensaiou a sua própria ‘coalizão’ religiosa em 2010, com o então bispo de Guarulhos e o pastor Silas Malafaia. Mas, é importante destacar, embora ambos tenham apoiado o mesmo candidato não atuaram conjuntamente.

Celso Russomano (à esq.) e o "bispo" Edir Macedo
Não se trata ainda, portanto, de nossa Maioria Moral. É que enquanto os católicos representam interesses econômicos consolidados, os evangélicos ocupam desproporcionalmente a base da pirâmide social — a inclusão social tem prioridade sobre as questões morais. Por paradoxal que seja, almejam mudança com “ordem”, o que resume grosseiramente a proposta de Celso Russomano. Segundo o Estadão, um de cada cinco eleitores tradicionais do PT é evangélico – justificativa dada pela campanha ao informar que Fernando Haddad vai disputar o voto evangélico com o candidato do PRB.

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