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terça-feira, 25 de setembro de 2012

UM BOM COMEÇO



Henning Boilesen, um dos financiadores da repressão
A Comissão da Verdade resolveu colocar o dedo numa das feridas mais malcheirosas do Brasil: ela vai investigar o financiamento de grandes empresas e de empresários à repressão política. Esse financiamento permitiu à ditadura, no início dos anos 1970, racionalizar e sistematizar os esforços de repressão política, antes esparsos e descentralizados. Nascia assim a Oban – Operação Bandeirante –, embrião dos famigerados DOI-Codis, responsáveis pela tortura e morte sistemáticas de centenas de militantes e combatentes contra a ditadura. 

Henning Albert Boilesen e Peri Igel (Grupo Ultra); Sebastião Camargo (Camargo Correa); Amador Aguiar (Bradesco); Adolpho Lindenberg (Construtora Lindenberg); Gastão Eduardo Bueno Vidigal (Mercantil); as empresas Ford, GM, Ultragás, Mappin e os bancos Mercantil de São Paulo e o Sudameris, entre outros, foram alguns dos principais financiadores da Oban. Entre os poucos empresários que se recusaram a colaborar estavam José Midlin (Cofap) e Antonio Ermírio de Moraes (Votorantin).

A Oban foi constituída em 1969 como um centro de informações, investigações e torturas que integrava elementos das Forças Armadas e da polícia estadual para o trabalho de combate à “subversão”. O órgão foi montado entre as ruas Tomás Carvalhal e Tutóia, nos fundos do 36º DP de São Paulo. Participaram do lançamento o governador Roberto de Abreu Sodré, o prefeito Paulo Maluf, o secretário de Segurança Pública, Hely Lopes Meirelles, o comandante do II Exército, general José Canavarro Pereira, e os comandantes do VI Distrito Naval e da 4ª Zona Aérea.

Herzog assassinado no DOI-Codi 
A Oban foi integrada depois na estrutura do DOI-Codi do II Exército, que ficaria conhecido como “o porão dos porões”. Por lá passaram 6.700 pessoas, das quais centenas foram torturadas e 50 assassinadas, entre elas o jornalista Vladimir Herzog, em 1975, e o operário Manuel Fiel Filho, em 1976. As mortes destes dois últimos levaram o general Geisel a demitir o comandante do II Exército, general Ednardo Dávila Mello. O mais famoso chefe do DOI-Codi foi o major Carlos Alberto Brilhante Ustra, até agora o único torturador da ditadura processado pela Justiça no Brasil.

Figueiredo e Médici: mandantes 
Outro grande passo dado pela Comissão da Verdade foi a determinação de se buscar a cadeia de comando que ordenou o sequestro, tortura, morte e desaparecimento de militantes. A Comissão partiu da constatação que os policiais e militares que participaram das operações não agiam por conta própria, mas cumpriam ordens dentro de uma estrutura hierárquica. “A tortura foi uma política de Estado durante a ditadura”, lembrou o diplomata Paulo Sérgio Pinheiro. Para ele, não interessam à Comissão apenas informações sobre os agentes acusados de violações de direitos humanos, em grande parte conhecidos. “Queremos saber de onde vinham as ordens para a execução dessa política”.

Veja o filme "Cidadão Boilensen", sobre o empresário de origem dinamarquês que se envolveu de corpo e alma com a repressão e foi "justiçado" por guerrilheiros da ALN. 


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