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segunda-feira, 11 de junho de 2012

BERLINGUER: UM COMUNISTA HERÉTICO


Há 28 anos morria o líder do Partido Comunista Italiano Enrico Berlinguer, que ficou conhecido por suas iniciativas políticas ousadas, como o Compromisso Histórico – tentativa de romper a coalizão conservadora do pós-guerra na Itália por meio da aliança entre o PCI e a DC –, e o Eurocomunismo, projeto de unir os partidos comunistas do Ocidente numa plataforma democrática, reformista e independente de Moscou.    

Uma década antes de Mikhail Gorbatchóv buscar reformar o regime soviético com a perestroika (reforma econômica) e a glasnost (abertura política), Berlinguer remava contra a corrente do bolchevismo oficial, defendendo a construção do socialismo com base nas liberdades ditas “burguesas” e a ideia de democracia como valor universal. Herdeiro das melhores tradições do comunismo italiano de Antonio Gramsci e Palmiro Togliatti, Berlinguer engajou-se, do início dos anos 1970 até a sua morte, em 1984, em um projeto de socialismo entendido como o ápice das conquistas democráticas nas esferas socioeconômica e político-ideológica. Era, na verdade, um projeto de recuperação da liberdade perdida no decorrer das experiências revolucionárias socialistas do século XX.

Sua proposta de Compromisso Histórico surgiu da análise do golpe de Augusto Pinochet contra o governo da Unidade Popular em 1973. A experiência chilena mostrava que não bastava a esquerda conquistar o poder por meios democráticos; era preciso também mantê-lo atraindo o centro político para a aliança de modo a neutralizar a direita. Em suma, tratava-se de ampliar a política antifascista das Frentes Populares dos anos 1930. A lição do Chile de Allende era que a esquerda, mesmo democraticamente eleita, não conseguiria governar tendo metade do país contra si.

Contudo, o Compromisso Histórico foi torpedeado em 1978 pelo cretinismo político da extrema esquerda (as Brigadas Vermelhas) e pela perfídia dos dirigentes da Democracia Cristã, particularmente Giulio Andreotti, que não queria a aliança com o PCI. O líder centrista e ex-premiê Aldo Moro, maior defensor da aliança com os comunistas, foi seqüestrado pelas BV e a burocracia democrata-cristã não tomou nenhuma iniciativa séria para sua libertação. E o PCI, que em 1976 conquistara sua maior votação no país (34% dos votos), ficou na defensiva, tendo que condenar a ação das BV e defender a ação repressiva do Estado.     

O Eurocomunismo surgiu com a constatação dos comunistas italianos de que a energia progressista liberada pela Revolução Bolchevique de 1917 tinha se exaurido, principalmente depois da invasão da Tchecoslováquia pelas tropas do Pacto de Varsóvia, em 1968. Berlinguer propunha uma espécie de “terceira via” entre o comunismo bolchevique – modelo de economia estatizada e partido único – e a social-democracia – democracia com manutenção da propriedade privada. 

O líder comunista reformista eslovaco Alexander Dubcek
As posições de Berlinguer se tornaram um anátema para os comunistas ortodoxos e stalinistas, principalmente depois da condenação, pelo PCI, da invasão soviética do Afeganistão (1979) e do golpe militar-comunista na Polônia (1981). Sem fazer alarde, Berlinguer resgatou a bandeira de outros comunistas heréticos como o húngaro Imre Nagy e o eslovaco Alexander Dubcek.

O funeral de Berlinguer reuniu uma multidão de milhões de pessoas em Roma, uma das maiores manifestações populares da Itália, que contou até com adversários como Giorgio Almirante. O então presidente socialista Sandro Pertini fez um dos mais emocionantes discursos de sua carreira.  











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