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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

UMA TERRA, DOIS POVOS


Palestinos festejam o discurso de Abbas na ONU 
No dia em que os palestinos solicitam à ONU o reconhecimento do Estado palestino, nada melhor do que publicar um texto de Martin Buber (1878-1965), teólogo e filósofo judeu respeitadíssimo, expoente do sionismo mas acima de tudo um humanista, defensor da transformação de Israel em um Estado binacional árabe-judaico, autor de Caminhos da Utopia e Uma Terra, dois povos, entre outros.

“Quando nós, os judeus, retornamos à Terra Santa depois de muitas centenas de anos, agimos como se essa terra estivesse vazia, sem habitantes. Pior ainda: agimos como se o povo que estava ali não nos afetasse, como se não fosse preciso lidar com ele, como se aquele povo não nos enxergasse. Mas eles nos enxergam. Ainda assim, não prestamos atenção a isso. Não admitimos que existe apenas um caminho: formar uma parceria séria com esse povo, o envolvendo de forma sincera na construção da nossa terra, cedendo uma parte de nosso trabalho e também compartilhando os frutos desse trabalho. Ao invés disso, temos jovens na comunidade judaica que gostam de pensar que são iguais a Sansão. Eles acham que colocar minas no caminho de veículos de inocentes e indefesos não-judeus é algo parecido com as façanhas do antigo herói.

Martin Buber
Creio que não haja ninguém entre nós que enxergue algum desses assassinos como um Sansão contemporâneo. Por quê? Porque o verdadeiro Sansão lutou frente a frente contra um grupo bem armado e que era maioria. Mais ainda: porque o terrorismo não é uma forma legítima de travar a guerra. E nossa atitude em relação aos árabes? Quase todos nós sabemos distinguir entre os terroristas árabes e o povo árabe. Mas não esperem que os árabes sejam capazes de distinguir entre nossos assassinos e o povo judeu por muito mais tempo. Nesse contexto, como chegar a um entendimento com os árabes? É verdade que há aqueles entre nós que consideram tal entendimento desnecessário e até prejudicial. Mas só os políticos que mais se iludem podem imaginar que nossa comunidade existirá para sempre sem o entendimento e a cooperação com os árabes.”
(este texto é de 1946)
[...]


“Lançamos mão das posições chave da economia do país sem compensar a população árabe, o que quer dizer que não lhes concedemos uma quota, quer no capital, quer no trabalho relativo à nossa atividade econômica. Pagando aos proprietários mais abastados o preço de terras adquiridas ou pagar rendas aos locatários de outras não é o mesmo que compensar todo o povo de um país. Como consequência, muitos dos árabes mais avisados entenderam o avanço dos assentamentos judaicos como uma espécie de conjura para privar as gerações futuras do seu povo da terra necessária para a sua existência e desenvolvimento. Somente mediante uma política econômica vigorosa e abrangente, dirigida à organização e desenvolvimento de interesses comuns teria sido possível contrariar esse ponto de vista e as respectivas consequências. Foi isso o que não fizemos.”

Este texto, escrito também por volta do fim dos anos 1940 e início dos anos 1950, poderia ter sido escrito hoje. Não é à toa que Martin Buber é muito pouco lembrado hoje em dia em Israel. 

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