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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

MEMORABILIA - PEDRO NAVA

“Temos dois terrores, a lembrança do passado e o medo do futuro. Pelo menos um, a lembrança do passado, é anulado pela catarse de passá-lo para o papel”
(Pedro Nava)


“O que há de terrível na vida mundana é a perda de tempo – a troca inútil de visita, jantares e almoços de cortesia, as obrigações de missas de sétimo dia, de casamentos, ação de graças, bodas de ouro e prata. Velórios. Tudo isto é motivo de encontros tantas vezes desagradáveis, com outros que não os verdadeiros amigos, sobretudo nas casas cujos anfitriões fazem inevitavelmente ímpares convidando para refeição e pondo juntos, à mesa, pessoas que reciprocamente teriam vontade de se verem - uma no enterro da outra. Isto é o que fez Proust dizer com impaciência e até ferindo os verdadeiros amigos que “ ...l´artiste qui renonce à une heure de travail pour une heure de causerie avec un ami , sait qu´il sacrifie une realité pour quelque chose qui n´existe pas...”

(Pedro Nava, O Círio Perfeito)


Quando morto estiver meu corpo
evitem os inúteis disfarces,
os disfarces com que os vivos,
só por piedade consigo,
procuram apagar no Morto
o grande castigo da Morte.


Não quero caixão de verniz
Nem os ramalhetes distintos,
Os superfinos candelabros
E as discretas decorações.


Eu quero a morte com mau gosto!


(...)


E descubram bem minha cara:
Que a vejam bem os amigos.
Que a não esqueçam os amigos
E ela lance nos seus espíritos
A incerteza, o pavor, o pasmo...


E a cada um leve bem nítida
A idéia da própria morte.


(...)


Meus amigos! tenham pena,
Senão do morto, ao menos
Dos dois sapatos do morto!
Dos seus incríveis, patéticos
Sapatos pretos de verniz.


Olhem bem estes sapatos
E olhai os vossos também.
(Pedro Nava, O Defunto)


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