Powered By Blogger

segunda-feira, 4 de julho de 2011

A ESTRATÉGIA FABIANA: COMENDO PELAS BORDAS


Presidenta Dilma Rousseff: quantas divisões ela tem? 
Nos primeiros seis meses de governo, a presidenta Dilma Rousseff queimou a língua várias vezes. Ela adotou posições duras e depois recuou – nos casos das regras especiais para contratações de obras da Copa do Mundo de 2014, da prorrogação do prazo das emendas parlamentares e do sigilo eterno dos documentos secretos do governo. Talvez lhe falte experiência para saber que, em política, assim como no campo de batalha - afinal, a política também é a continuação da guerra por outro meios -quem não tem força suficiente para se impor não pode ameaçar o adversário, sob pena de ser derrotado ou se desmoralizar. Nessas circunstâncias, é necessário evitar o embate frontal e adotar a estratégia “fabiana” de comer pelas bordas, como sabiamente recomendava Niccolò Machiavelli. Na verdade, estou usando as derrotas política da presidente como pretexto para falar sobre a fascinante história dessa estratégia, cujas origens remontam aos campos de batalha da Segunda Guerra Púnica (218aC-201aC), travada entre os exércitos de Roma e Cartago.

Fabius Maximus Cunctator
A estratégia deriva seu nome de Quintus Fabius Maximus Verrucoso – depois conhecido como Fabius Cunctator – ditador da República Romana, a quem foi conferida a tarefa de derrotar o grande general cartaginês Aníbal Barca no sul da Itália. Ele se tornou uma grande ameaça a Roma depois de ter invadido a Itália atravessando os Alpes com sua cavalaria de efefantes durante o inverno. Aníbal infringiu perdas devastadoras aos romanos, principalmente nas batalhas de Trebbia e a do Lago Trasimeno. Fabius iniciou então uma guerra de atrito, explorando vulnerabilidades estratégicas do general cartaginês, mas evitando entrar em confronto direto com ele.

Aníbal tinha dois
Aníbal Barca, general cartaginês
pontos fracos. Em primeiro lugar, ele era comandante de um exército em solo italiano, muito distante de Cartago, que se deslocava com rapidez e tinha grandes dificuldades logísticas. Tendo isso em conta, em vez de enfrentar o exército cartaginês, Fabius atacou as linhas de suprimento de Aníbal e o obrigou a fazer manobras em terreno acidentado, de modo a anular sua superioridade na cavalaria. O segundo ponto fraco do general cartaginês consistia no fato de grande parte do seu exército ser composto por mercenários da Gália e da Espanha, que não tinham grande lealdade a Aníbal, ainda que não gostassem de Roma. Sendo mercenários, eles estavam despreparados para a guerra de desgaste; não tinham nem equipamento nem paciência para tal campanha. A estratégia de Fabius Cunctator de atrasar a batalha, atacar as cadeias de fornecimento e evitar o confronto direto, assim, atingiu em cheio o exército de Aníbal. Apesar disso, muitos dos conterrâneos de Fabius viam essa estratégia como indigna e covarde, embora eficaz em alguns aspectos, e o apelido Cunctator – o que posterga – inicialmente era pejorativo. A estratégia foi então abandonada, mas a vitória dos cartagineses em Cannae, em 216aC, fez os romanos retomá-la.

Batalha de Zama (202 aC)
Embora a vitória final de Roma sobre Aníbal e Cartago tenha sido conquistada na batalha de Zama (202 aC) por Cipião, o Africano, um general romano que se opunha às teses de Fabius Cunctator, a estratégia fabiana foi reconhecida como responsável por ter salvo Roma em seu momento mais crucial. Aníbal e Cipião são tidos como dois dos maiores generais de todos os tempos, mas a estratégia fabiana ganhou força a partir do século XVIII, tendo sido empregada por George Washington contra os ingleses na Guerra da Indendência Americana, e no século XIX pelos espanhóis contra as tropas napoleônicas. O fabianismo inspiraria, portanto, tanto a guerra de guerrilhas – que opunha exércitos irregulares a regulares – quanto uma modalidade moderada de socialismo.

Seria bom conhecer essa estratégia para adotá-la quando necessário – embora políticos intuitivos que aprenderam a usá-la, como Lula, por certo não a conheceram pelos livros de História.

Nenhum comentário:

Postar um comentário