Christiane Lagarde, diretora-gerente do FMI |
Pensei que a noite mal dormida me embotara os sentidos e que, por isso, eu não tinha lido direito a manchete. Mas era isso mesmo: a poderosa chefona do FMI terá que fazer um treinamento ético! Nessa idade, meu Deus? Será que ela aprende??
Parece que o "jequismo" puritano dos americanos, ultimamente travestido de “politicamente correto”, chegou ao FMI. Os cartesianos franceses têm agora mais uma razão para desprezar a indigência intelectual do establishment americano. Fico pensando como seriam esses cursos; qual ética seria ensinada? A platônica, a aristotélica ou a sofística? A hobbesiana, a kantiana ou a hegeliana? Não, os calvinistas não são tão sofisticados... Por certo no curso haveria provas, notas, avaliações; neste caso, fico me perguntando se o sujeito (ou “sujeita”; afinal, “todas e todos” não virou regra?) que tirasse, por exemplo, nota 9 numa prova de ética seria considerado alguém um pouco menos ético do que quem tirasse 10... De uma coisa eu tenho certeza: esse curso do FMI jamais ensinará, por exemplo, que é aético impor políticas recessivas que provoquem desemprego e crise social nos países...
Alexander Hamilton |
O puritanismo que acha que pode melhorar as pessoas por meio de “treinamento ético” é o mesmo que aponta o dedo acusador e condena, antes de qualquer prova. E, se condena, se arvora no direito de impor uma punição exemplar. Veja-se o caso de Dominique Strauss-Khan. Ele foi preso, algemado e mostrado para um batalhão de fotógrafos do mundo inteiro – é o que os americanos chamam de “perp walk” (desfile do suspeito). E isso apesar do princípio de presunção de inocência que informa o Direito anglo-saxão. Aqui o puritanismo se encaixa perfeitamente no espírito da “sociedade do espetáculo” e, ainda por cima, o faz seqüestrando o discurso democrático (“todos são iguais perante a lei”) para justificar o circo.
Dominique Strauss-Kahn escoltado pelos guardiões da Justiça |
Ora, na maioria dos países civilizados, um suspeito, seja figurão ou proletário, jamais poderia ser exposto dessa maneira. “Nos EUA, humilhações públicas fazem parte da tradição puritana, na qual os presos tornam-se exemplos públicos”, escreveu o jornalista Michael Kepp. O fato de a própria Promotoria de Nova York ter descoberto que DSK foi vítima de uma armação, a ponto de determinar sua libertação, não altera nada. No fundo, os puritanos devem achar que, pelo menos, DSK cometeu um “crime”, o de adultério, e que, portanto, é bom que pague por isso...
Sei não, mas suspeito que dona Lagarde não vai aprender nada nesse curso...
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