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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O DIPLOMATA, O POLICIAL E O CAMALEÃO

Qualquer semelhança entre esses personagens históricos e personagens atuais da política NÃO É mera coincidência.

Charles-Maurice Talleyrand-Périgord
"Esta resistência secreta contra a paixão guerreira e a falta de medida de Napoleão aproxima finalmente  até mesmo os mais encarniçados adversários entre os seus conselheiros: Joseph Fouché e Charles-Maurice Talleyrand-Périgord. Estes dois ministros mais hábeis de Napoleão, as pessoas psicologicamente mais interessantes de sua época, não se estimam - provavelmente por serem parecidos em muita coisa. Ambos são seres racionais, sóbrios,  realistas, cínicos e discípulos inescrupulosos de Maquiavel. Ambos passaram pela escola da Igreja e pela ardente escola superior da Revolução. Ambos têm o mesmo sangue frio implacável em matéria de dinheiro e de honra, ambos servem com a mesma falta de lealdade e de escrúpulos à República, ao Diretório, ao Consulado, ao Império e ao Rei. A cada instante, esses dois representantes típicos da versatilidade se encontram no palco do mundo - ora disfarçados de revolucionários, de senadores, de ministros, de servidores do rei. E, precisamente por pertencerem à mesma raça espiritual e receberem os mesmos papéis diplomáticos, odeiam-se com o conhecimento frio e o bom rancor dos rivais.
Joseph Fouché
Ambos pertencem ao mesmo tipo amoral, mas, semelhantes no caráter, são de origem diferente.

[...]

Estas diferenças de origem conferem ao caráter de ambos, que é parecido, uma cor especial. Talleyrand, um homem de atitudes afetadas, serve com a condescendência indiferente e fria de um fidalgo; Fouché com a atividade diligente e esperta de um funcionário carreirista. Em suas semelhanças, ao mesmo tempo também diferem, e se ambos amam o dinheiro, Talleyrand o ama à maneira de um gentil-homem, para gastá-lo, para fazê-lo rolar abundantemente na mesa de jogo e com mulheres; já Fouché, filho de comerciantes, o capitalista, quer acumular o dinheiro e fazê-lo render juros. Para Talleyrand, o poder é apenas um meio para chegar ao prazer, ele lhe dá as melhores e mais nobres oportunidades de conseguir usufruir de todas as coisas sensuais do mundo, como luxo, mulheres, arte e a boa mesa, enquanto Fouché, mesmo várias vezes milionário, continua espartano, monacal, econômico. Ambos não conseguem renegar a origem social: nunca, nem nos dias mais selvagens do Terror, Talleyrand, o senhor de Périgord, foi um verdadeiro republicano e homem popular; nunca, mesmo quando era duque de Otranto, apesar do uniforme cintilante de ouro, Joseph Fouché foi verdadeiramente aristocrata."    
   
Stefan Zweig, Joseph Fouché, retrato de um homem político

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