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domingo, 23 de janeiro de 2011

RÉQUIEM PARA UM PARTIDO

Antônio Gramsci
Em janeiro comemoram-se os 120 anos de nascimento de Antônio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano (PCI),  pensador e dirigente marxista original e fecundo; e os 90 anos de fundação do PCI, que chegou a ser o maior partido comunista do Ocidente - o que assustava Washington - e o mais independente da "linha justa" soviética - o que incomodava Moscou. Gramsci foi um dos primeiros a perceber a originalidade da Revolução Bolchevique de 1917 ao escrever que ela era uma "revolução contra O Capital" de Karl Marx - uma crítica aos marxistas ortodoxos que, fazendo uma leitura dogmática da obra do pensador alemão, diziam que uma revolução socialista só poderia ocorrer em países capitalistas economicamente avançados. Mas, fundamentalmente, Gramsci percebeu que, nas sociedades ocidentais, uma transformação socialista só seria possível com uma estratégia totalmente diferente daquela utilizada pelos bolcheviques na Rússia: lá, o Estado era forte e a sociedade civil, gelatinosa; então, impunha-se uma "guerra de movimento"; em outras palavras, o assalto violento ao poder. No Ocidente, ao contrário, havia uma vigorosa sociedade civil e o Estado era mais poroso; fazia-se necessário, então, travar uma "guerra de posições" - construir consensos para se estabelecer a hegemonia ideológica das classes subalternas na sociedade civil antes de se lançar à conquista do poder político. Uma formulação que soava quase como uma subversão dos cânones marxistas-leninistas emanados de Moscou, mas que depois se mostrou muito mais eficaz para as lutas operárias no contexto europeu ocidental do que as teses economicistas da III Internacional. Aprisionado pelo fascismo, Gramsci amargou nove anos no cárcere, onde aprofundou suas reflexões teóricas ("Cadernos do Cárcere") e morreu logo depois de ter sido libertado, em 1937. Não fosse por isso, certamente ele teria sido uma das vítimas dos expurgos stalinistas.

Apesar de inúmeras contradições e desvios, o PCI se mostrou um verdadeiro herdeiro das ideias gramscianas; ele foi fundamental na articulação da resistência ao fascismo e tornou-se um grande partido de massas depois da guerra. Por duas vezes - 1948 e 1976 - o PCI deixou Washington de orelhas em pé ao ficar muito próximo de conquistar o poder na Itália pela via democrática. Policamente, evoluiu do "policentrismo" de Palmiro Togliatti (um stalinista reciclado) ao Eurocomunismo de Enrico Berlinguer, que consagrou a ideia de "democracia como valor universal" e não apenas como tática para se chegar ao poder. Nesse período, seus teóricos travaram um vibrante diálogo com o filósofo político socialista Norberto Bobbio.  
Em 1991, sob o impacto da implosão do bloco soviético - do qual já mantinha considerável distância - o PCI cometeu um harakiri político e virou Partido Democrático de Esquerda. De lá para cá só perdeu força e identidade: uniu-se ao que restou da Democracia Cristã e hoje é uma pálida sombra de seu passado. O PCI descreveu à perfeição a trajetória do transformismo, conceito cunhado por Gramsci para analisar a coptação de organizações radicais pelas classes dominantes.   

Exposição em Roma sobre a história do PCI

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