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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

OS CANIBAIS E OS "CIVILIZADOS"

"Penso que há mais barbárie em comer um homem vivo do que em comê-lo morto, em dilacerar por tormentos e suplícios um corpo ainda cheio de sensações, fazê-lo assar pouco a pouco, fazê-lo ser mordido e esmagado pelos cães e pelos porcos (como não apenas lemos mas vimos de fresca memória, não entre inimigos, mas entre companheiros e compatriotas, e, o que é pior, a pretexto de piedade e religião) do que em assá-lo e comê-lo depois que está morto. [...] Portanto, podemos muito bem chamá-los (aos canibais) de bárbaros com relação às regras da razão, mas não com relação a nós, que os ultrapassamos em toda espécie de barbárie".
Michel de Montaigne (1533-1592), Sobre os Canibais. Essa comparação do filósofo do século XVI entre a barbárie dos canibais que viviam no Brasil e a barbárie da civilização cristã europeia não tem nada a ver com a posterior defesa do "bom selvagem" de Rousseau. Seus índios são sanguinários e cruéis. Mas, para o autor de Ensaios, se aqueles povos são cruéis, nós (supostamente civilizados) também o somos.      

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