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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

OS VERDES EM SEU LABIRINTO

Alfredo Sirkis

Fernando Gabeira

No debate da Rede Record de TV no último domingo, os "verdes" Alfredo Sirkis, candidato a deputado federal e ex-coordenador da campanha de Marina Silva, e Fernando Gabeira, candidato do PV ao governo do Rio de Janeiro, ironizaram o comentário de Plínio de Arruda Sampaio, candidato do Psol à Presidência, sobre países com armamento nuclear. Questionado por José Serra sobre sua opinião sobre a luta pelos direitos humanos e pela democracia e a aproximação do governo Lula com países como o Irã, que "são ditatoriais e estão claramente na corrida pela bomba atômica", Plínio respondeu que a opinião do tucano sobre o Irã era hipócrita porque "se os Estados Unidos têm direito à bomba atômica, o Irã também tem". "Você viu que o Psol agora defende a bomba atômica?", comentou Sirkis. "Eu falei que eles não saíram do século XX", cutucou Gabeira. A ironia talvez camufle um profundo incômodo dos dois ex-guerrilheiros. 
Marina Silva, candidata do PV
Se Plínio ainda está no século XX, os verdes não ficam atrás. Hoje, até ecologistas pioneiros como James Lovelock, autor da "Hipótese Gaia", reviram seus conceitos e admitem que a energia nuclear é a melhor opção para reduzir os efeitos do aquecimento global. O tempo passou na janela e só Gabeira e Sirkis não viram; pensam que ainda estamos nos anos 80, quando a oposição à energia nuclear colocava o ambientalismo como alternativa à "sociedade industrial". Posteriormente, os temas ecológicos seriam absorvidos pelos partidos tradicionais e a energia nuclear deixaria de ser o "bicho-papão" que era na Guerra Fria.
 Já a candidata à Presidência pelo PV, Marina Silva, não saiu ainda do século XIX. Como parte do movimento ambientalista, ela é adepta da deepy ecology (ecologia profunda), corrente ecológica fundamentalista que, apesar de ser dissidente da esquerda tradicional, deita raízes no pensamento romântico, reacionário e anti-humanista surgido como reação ao Espírito das Luzes, à Revolução Francesa e à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. 
Caspar David Friedrich
Defendem uma concepção "holística" - na verdade, totalitária -, segundo a qual a humanidade não constitui senão a ínfima parte do Universo, sendo este uma entidade quase divina, infinitamente mais elevada do que toda e qualquer realidade individual. Como diz o filósofo francês Luc Ferry, para os ecologistas profundos, "a natureza conteria em si mesma certos objetivos, certos fins, como, por exemplo, o instinto de conservação, independentemente de nossas opiniões subjetivas [...] O homem não seria mais, como no âmbito do humanismo republicano, o ser autônomo que se quer autor das normas e das leis. [...] o ecologista profundo é guiado pelo ódio à modernidade, pela hostilidade ao tempo presente". Tal postura tem conotações claramente autoritárias: "No longo prazo, quer agrade ou não a este ou àquele, será necessário de fato recorrer à força, se for o caso, para lutar contra os que continuam a deteriorar o meio ambiente", dizia um comunicado do Greenpeace de 1979. Cada um interprete a frase como quiser, mas alguns dos papas da ecologia profunda chegaram a propor "secar na nascente a superpopulação do Terceiro Mundo" ou até a defender uma mortalidade maciça de seres humanos para defender o equilíbrio ambiental... 

Mas, ao menos em questões comportamentais, os verdes originais, inclusive no Brasil, eram libertários: em diversas campanhas anteriores, Gabeira chocou a direita e incomodou a esquerda ortodoxa por levantar bandeiras a favor da liberação das drogas, do aborto e do casamento homossexual. Sirkis também defendia as mesmas bandeiras. Agora, imaginem vocês esses vanguardistas, que um dia foram tão modernos e tão descolados, sendo obrigados a carregar o andor de Marina Silva, que uniu o ecologismo mais "xiita" ao moralismo religioso tacanho, ainda por cima traduzido num insuportável discurso politicamente correto...
Só 55% do esgoto de São Paulo é tratado 
O pior de tudo, no entanto, é o PV estar fazendo o papel de linha-auxiliar de José Serra. Como disse Luiz Carlos Azenha no seu blog, o partido de Marina se concentra na "preservação" da Amazônia - os verdes já chegaram a apoiar a presença de Ongs estrangeiras em território brasileiro para "fiscalizar" o desmatamento e a situação da população indígena. Mas eles são incapazes de atacar os verdadeiros problemas ambientais de uma metrópole como São Paulo, que tem 20 milhões de habitantes. "Qualquer política agressiva para enfrentar o problema requereria o aumento dos impostos e, provavelmente, a adoção e cumprimento de normas rígidas que incidiram na margem de lucro dos grandes financiadores da aliança PSDB/PV", diz Azenha. "Por outro lado, qualquer solução para os córregos e a várzea do rio Tietê exigiria uma reforma urbana [...] além de exigir dinheiro, ou seja, mais impostos, essa reforma incidiria sobre os interesses dos grandes grupos imobiliários e de construção civil que, para todos os efeitos, legislam sobre a ocupação urbana de São Paulo [...]. Um verdadeiro Partido Verde deveria denunciar estes concluios que degradam a vida humana na metrópole. mas, em vez disso, o PV prega que troquemos o plástico por sacolas de pano no Pão de Açúcar". Quando se trata de metrópoles como São Paulo, os verdes sabem ser pragmáticos...

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