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segunda-feira, 31 de maio de 2010

O RENASCIMENTO DA TOLERÂNCIA EUROPEIA

Por uma série de razões históricas, a Europa, ao contrário dos Estados Unidos, não conseguiu criar mecanismos para integrar os imigrantes em seus países. A tentativa mais liberal, baseada numa concepção antropológico-multiculturalista, defende a preservação das "identidades culturais" das comunidades imigrantes, o que na prática criou "bantustões", como no apartheid sul-africano, que isolou essas comunidades em guetos, em vez de integrá-las na sociedade. O resultado foi um aumento do ressentimento mútuo, com o crescimento do radicalismo islâmico, de um lado, e a proliferação de grupos xenófobos, de outro. Na Holanda, um dos países mais liberais do Velho Continente, o paradoxo chegou a tal ponto que a extrema direita, representada pelo Partido da Liberdade de Geert Wilders, com uma retórica tipicamente fascista de ódio e violência, estava liderando as pesquisas de opinião para eleições gerais de junho. Mas agora, felizmente, entrou em cena uma chapa representada por um judeu e uma turca - historicamente os dois grupos mais estigmatizados pela xenofobia europeia - cujas propostas de integração dos imigrantes fizeram renascer a bandeira da tolerância holandesa e europeia e aumentaram as chances dos trabalhistas de ganhar as eleições. Trata-se de Job Cohen, um judeu secular que foi prefeito de Amsterdã até março último, e Nebahat Albayrak, nascida na Anatólia e criada em Rotterdã. A entrada da dupla na disputa dobrou as intenções de voto no Partido Trabalhista, que pulou de 11% para 22%. A plataforma de Cohen-Albayrak propõe o abandono da postura liberal tradicional, colocando os imigrantes como participantes efetivos da sociedade holandesa. Isso inclui aprender o idioma do país, respeitar as leis e comungar os valores liberdade e democracia. Em outras palavras, acabar com o equívoco paternalista de "respeito às tradições" das comunidades imigrantes, o que na maioria das vezes significava, na prática, endossar práticas políticas reacionárias e antidemocráticas, aumentando a distância entre a cultura ocidental e a dos imigrantes, como denunciou a ex-deputada holandesa de origem somali Hirsi Ali. Ela, aliás, é cética em relação à possibilidade de convivência do Islã com os valores democráticos do Ocidente.
Cohen e Albayrak, por sua vez, apostam na integração efetiva das comunidades imigrantes na sociedade ouvindo seus anseios, mas sem dar margem à exaltação da "identidade cultural".
Eppur si muove.

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