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quarta-feira, 3 de março de 2010

O POETA CARNICEIRO

Diante do Tribunal Penal Internacional da ex-Iugoslávia em Haia, onde está sendo julgado, o ex-dirigente sérvio-bósnio Radovan Karadzic negou os crimes que lhe são atribuídos e disse que a causa que ele defendeu na guerra civil da Bósnia nos anos 1990 é “justa e sagrada”. Eis aqui um caso típico em que a definição de Samuel Jonhson sobre o patriotismo como “último refúgio dos canalhas” se encaixa perfeitamente. Sobre Karadzic, psiquiatra e poeta de 64 anos, pesam 11 acusações de crimes de guerra, entre elas duas de genocídio, cometidos entre 1992 e 1995 na Bósnia: o massacre de sete mil bósnios da cidade de Srebrenica, em 1995, e o cerco de 43 meses a Sarajevo, capital da Bósnia, responsável pela morte de 10 mil pessoas. As cenas de civis inocentes de Sarajevo sendo massacrados por bombardeios ou alvejados por franco-atiradores ainda estão frescas na memória coletiva.
A guerra da Bósnia foi o maior conflito armado na Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Ela nasceu das investidas nacionalistas de sérvios, mas também de croatas, contra a república federal multinacional construída por Josip Broz Tito. Essas investidas mergulharam a federação iugoslava num torvelinho de sangue e fogo. Os sérvios, liderados por Slobodan Milosevic, Radovan Karadzic e seu lugar-tenente, o general Ratko Mladic (na foto acima, à esq.), foram os principais vilões, mas os croatas também cometeram crimes de guerra e campanhas de “limpeza étnica”. Campos de concentração voltaram a povoar o solo europeu. A carnificina correu célere durante quatro anos e só parou com a intervenção da Otan, quando se constatou a impotência da Europa para acabar com o conflito em seu quintal.
Sobre a cumplicidade da União Européia e da ONU com o esfacelamento da Iugoslávia, o escritor espanhol Juan Goytisolo, autor de Cadernos de Sarajevo e El Sitio de los Sitios, escreveu: "Todos estavam cientes do genocídio, da limpeza étnica e de horrores impensáveis na Europa depois do nazismo. Em lugar de apoiar uma Bósnia multiétnica, multicultural e plurirreligiosa, colocaram-se ao lado dos que defendiam a tribo, o sangue e os valores primitivos e brutais"

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