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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

OUTRA REVOLUÇÃO ESQUECIDA


Se o Brasil não teve algo comparável à Revolução Francesa em termos de consequências históricas, conseguiu fazer um belo ensaio geral: a chamada "Cabanagem" ou "Revolta dos Cabanos", referência às cabanas à beira dos rios e igarapés nas quais viviam amontoados os habitantes pobres da Província do Grão-Pará - que englobava os atuais estados do Amazonas e do Pará. Os cabanos eram índios destribalizados, escravos, escravos alforriados, mestiços livres - a esmagadora maioria da população, que era oprimida por uma minoria branca, principalmente comerciantes portugueses. Entre 1822 e 1831 eclodiram várias revoltas populares no Grão-Pará. Com a abdicação de D. Pedro I, em 1831, os cabanos, liderados pelo cônego Batista Campos, depuseram vários governantes nomeados pelo Poder Central. A Regência Trina retomou o controle da situação em 1833, nomeando o governador Bernardo Lobo de Sousa, que deu início a uma repressão massiva. A revolta recomeçou e se espalhou pela Província, liderada pelos irmãos lavradores Antonio e Francisco Vinagre e pelo seringueiro Eduardo Nogueira Angelim. A Cabanagem teve até um "Marat", o jornalista maranhense Vicente Ferreira Lavor, dono do jornal Sentinela, porta-voz da revolução. Em janeiro de 1835, os revoltosos dominaram Belém e executaram o governador. Criou-se uma Assembléia Legislativa Provincial e o Poder Executivo foi entregue ao fazendeiro Félix Antonio Malcher (Lafayette? Danton?). Mas este, temendo a violência das massas populares - nossos "jacobinos?" - começou a perseguir as lideranças mais radicais, como Francisco Vinagre e Angelim. Além disso, manteve a fidelidade ao poder central. Acabou deposto e executado, substituído por Francisco Vinagre, que também seria deposto, acusado de traição. Vencidos na capital, os cabanos se retiraram para o interior. Liderados por Antônio Vinagre e Eduardo Angelim, enbrenharam-se nas vilas e povoados, conquistaram o apoio popular e retomaram Belém. Angelim (Robespierre?) chefiou o novo governo popular, que durou dez meses. Mas dissidências internas, ausência de um projeto político e a epidemia de varíola enfraqueceram o movimento. O regente Feijó mandou para Belém uma poderosa esquadra que retomou a cidade; os cabanos voltaram para o interior, onde resistiram por mais três anos. Os rebeldes foram finalmente esmagados em 1840. No fim, dos quase 100 mil habitantes do Grão-Pará de então, 30 mil - ou seja, 30% da população- tinham sido dizimados. E depois ainda dizem que a História do Brasil foi incruenta...

"(A Cabanagem) foi o mais notável movimento popular do Brasil... o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem ocupar o poder de toda uma província com certa estabilidade. Apesar de toda sua desorientação, da falta de continuidade que o caracteriza, fica-lhe contudo a glória de ter sido a primeira insurreição popular que passou da simples agitação para a tomada efetiva do poder", escreveu o historiador Caio Prado Jr.

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